Half-rememberred lines of Shakespeare
change of times and states and cristal tresses--
And Pepys, going out with his wife to see the comet,
and afterward the plague,
and then the fire.
I always wondered how they noticed comets,
after all, the sky is filled with stars
and planets, and I ve never quite been able
to tell the two apart, see which was which.
And why did comets scare them so?
Stars fall, which is much worse,
But that does not make us fear that war will come,
and fires and plagues will come,
established things be overturned and new things come
--and new things are never comfortable things
So I walk down to the woods and stare up
at night. So many stars
But only one comet, obvious, and perfect and precise
its tail a ghost and white against the night,
On seeing it, I understand at last
And shiver,
for the change that's always coming
"...Cada um cria seu mundo dentro de sua visão e audição. E fica prisioneiro dele. E de sua cela, ele vê a cela dos outros."
-Karl Engel
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
sábado, 27 de dezembro de 2008
Relato: Visita
Recebi uma visita. Foi a tarde de calor do campus. A cor e o som de várias continhas postas juntas como irmãs unjidas e necessárias. A voz, essa canção, toca a coisa mole que escondo debaixo da carnadura. Se me finjo altiva, se me finjo silenciada, na verdade é por pura falta de tato em lidar com algo maior do que eu posso querer dizer sem soar como hipócrita. Consigo falar de saudade. De beleza. De danças. Mas me falta o jeito de falar dela. Recebi uma visita que me fez extremamente feliz por alguns segundos. Até me esqueci do tempo. Até me esqueci de dizer que ela me faz sorrir por dentro.
Conto: Picadeiro
Acordou aquela manhã com o coração em chamas. Estava pesado demais para o seu peito. Pesava como se o povo de Faery dormisse sobre seu tórax esperando o advento da manhã para lhe roubar uma das crianças.
Ao invés de assar o pão de ontem com uma colher de margarina e passar o solitário café preto e forte de antes de ir pro escritório, olhou pela janela manchada de cinza do apartamento. O circo se estendia a poucos metros dali. A lona, um arco íris dentre os prédios. A alegria completamente alienígena daquelas cores em contraste com a cidade.
Fechou os olhos e se lembrou do sons do picadeiro. O rugido enorme do leão que fazia tremer por dentro e deixava suas pernas magricelas de menino bambas, a voz marcante do apresentador, as gargalhadas irônicas do palhaço.
Os palhaços não eram autênticamente felizes. Eles estavam entre ser bicho e ser gente, como as outras aberrações, a mulher barbada, a mais gorda do mundo, o homem lobo, a mulher gorila e até mesmo os desengonçados anões. Gente de circo.
No escritório, ele também se confundia..por vezes era o homem cálculos e relatórios. Tão ironicamente misturado com seu ofício que também sofria de cálculo, a dor pungente e chata nos rins. Raramente perguntavam seu nome ou como havia sido seu dia, queriam saber dos memorandos e papéis. Rá! Papéis. Zé que é Palhaço Brigadeiro, Teodoro que teve um filho que não sabe o nome, e que põe no rosto sofrido de homem velho e soliário, carregando consigo aquela lembrança daquele único amor, uma máscara sorridente que magicamente o torna outro, criança de novo, Palhaço Beringela.
Com um suspiro puxa a gaveta da cozinha e a faca de corte. Com ela, rasga o peito e enfia a mão dentro e agora segura um coração palpitante como um passarinho, quente e pulsando frágil, frágil. Segura com cuidado para não apertar muito. O pijama, agora rubro, foi transformado magicamente do amarelo doente em trajes salpicados de vermelho, mais escuro no meio e mais claro a medida que se afastavam do lugar onde antes era seu peito fechado, e que agora se abria em flor.
Foi um pouco difícil abrir as portas usando uma mão só e andar até o circo também foi penoso pois o chinelo estava uma poça escorregadia. O tempo todo ele tinha que conter a vontade de correr até o circo com um sorriso aberto e os olhos brilhantes, mostrando o que tinha em suas mãos.
Uma dona deixou cair as compras mas ele não pode se abaixar para ajudá-la. Olhar acusador. Nem ao menos havia lhe notado as mãos ocupadas. Ele era invisível como o habitual, mesmo em seus trajes novos, por sua vez, as outras pessoas também eram invisíveis, aquele momento era só dele.Assim, ele pôde virar com desprezo o seu rosto e combinou consigo mesmo de não párar por mais ninguém.
A fila da bilheteria era pequena, e só ao chegar a sua vez foi se lembrar que não havia trazido dinheiro. Não precisou dizer nada, do outro lado da gradinha abriu-se um sorriso compalcente e lhe foi empurrado um ingresso "Cuidado com isso que você carrega, hein e evite sujar o ingresso, precisamos reaproveitá-lo na próxima noite, não estamos ganhando muito, você sabe!". Ele acenou com a cabeça para mostrar que havia entendido o pedido, e mostrou os dentes em um gesto meio adoentado.
Sentou-se lá no fundo, mas mesmo assim se sentiu nú, pois na arquibancada, projetada para cinquenta espectadores, não se sentavam mais do que quinze.Os tambores rufaram e ele pela primeira vez viu, com seus olhos, o pequeno coração(pequeno para um homem da sua idade, certamente deve ter murchado um pouco) bater mais forte, quase saltando das palmas de suas mãos.
Então, com um grito profundo, ele atirou seu coração às areias do circo. Ele caiu bem no meio do picadeiro, causando um pequeno levantar de poeira. Alguém espirrou ou tossiu. O leão limitou-se a farejar e desprezar o pedaço de carne. O trapezista sorriu.Os palhaços zombaram daquela atitude desesperada.
Só a pequena bailarina compreendeu. E veio caminhando com seu olhar melancólico e os passos medidos. A pequena bailarina não era mais que uma menina, no entanto, a mais delicada das mulheres. Uma mulher-menina de porcelana, um bibelô sensível. Com as mãos em concha apanhou o coração. O sangue lhe manchava as luvas brancas de carmina.
Naquelas pequenas mãos de opala, o coração se tornou magia. A arquibancada vazia se encheu, as crianças brincavam na rua, podia se ver as nuvens de Outono quando se olhava para o céu. A cidade e seus arranha-céus haviam ido embora e o circo deixara de ser nômade. Lá fora, brincadeiras de peão, de rouba-bandeira, cachorros latindo, um homem acenando de sua carroça. Donas conversando nos portões, alguém vendendo pão, outro assobiando.
Demourou-se um pouco para que ele aprendesse a vestir com razoável destreza, os risos da hiena, a frágil polidez dos elefantes e a elegância marinha dos corcéis. Antes vieram os tombos, as frustrações.
Porém, quando o espetáculo acaba, a noite alta, as pessoas cantarolando. Quando as luzes se apagam, e o leão boceja, o palhaço tira a sua maquiagem e a bailarina cessa seus rodopios...é quando o picadeiro dá lugar à outro tipo de mágico. Um mágico com um buraco no peito. Ele abre seus braços e como já não tem o coração lhe pesando, ele voa. Vai para um mundo onde não há espelhos falsos e o sol devolve a cada coisa a sua sombra natural. Nesse mundo não há o aplauso, porque tudo é justo. Porque tudo é bom.
Ao invés de assar o pão de ontem com uma colher de margarina e passar o solitário café preto e forte de antes de ir pro escritório, olhou pela janela manchada de cinza do apartamento. O circo se estendia a poucos metros dali. A lona, um arco íris dentre os prédios. A alegria completamente alienígena daquelas cores em contraste com a cidade.
Fechou os olhos e se lembrou do sons do picadeiro. O rugido enorme do leão que fazia tremer por dentro e deixava suas pernas magricelas de menino bambas, a voz marcante do apresentador, as gargalhadas irônicas do palhaço.
Os palhaços não eram autênticamente felizes. Eles estavam entre ser bicho e ser gente, como as outras aberrações, a mulher barbada, a mais gorda do mundo, o homem lobo, a mulher gorila e até mesmo os desengonçados anões. Gente de circo.
No escritório, ele também se confundia..por vezes era o homem cálculos e relatórios. Tão ironicamente misturado com seu ofício que também sofria de cálculo, a dor pungente e chata nos rins. Raramente perguntavam seu nome ou como havia sido seu dia, queriam saber dos memorandos e papéis. Rá! Papéis. Zé que é Palhaço Brigadeiro, Teodoro que teve um filho que não sabe o nome, e que põe no rosto sofrido de homem velho e soliário, carregando consigo aquela lembrança daquele único amor, uma máscara sorridente que magicamente o torna outro, criança de novo, Palhaço Beringela.
Com um suspiro puxa a gaveta da cozinha e a faca de corte. Com ela, rasga o peito e enfia a mão dentro e agora segura um coração palpitante como um passarinho, quente e pulsando frágil, frágil. Segura com cuidado para não apertar muito. O pijama, agora rubro, foi transformado magicamente do amarelo doente em trajes salpicados de vermelho, mais escuro no meio e mais claro a medida que se afastavam do lugar onde antes era seu peito fechado, e que agora se abria em flor.
Foi um pouco difícil abrir as portas usando uma mão só e andar até o circo também foi penoso pois o chinelo estava uma poça escorregadia. O tempo todo ele tinha que conter a vontade de correr até o circo com um sorriso aberto e os olhos brilhantes, mostrando o que tinha em suas mãos.
Uma dona deixou cair as compras mas ele não pode se abaixar para ajudá-la. Olhar acusador. Nem ao menos havia lhe notado as mãos ocupadas. Ele era invisível como o habitual, mesmo em seus trajes novos, por sua vez, as outras pessoas também eram invisíveis, aquele momento era só dele.Assim, ele pôde virar com desprezo o seu rosto e combinou consigo mesmo de não párar por mais ninguém.
A fila da bilheteria era pequena, e só ao chegar a sua vez foi se lembrar que não havia trazido dinheiro. Não precisou dizer nada, do outro lado da gradinha abriu-se um sorriso compalcente e lhe foi empurrado um ingresso "Cuidado com isso que você carrega, hein e evite sujar o ingresso, precisamos reaproveitá-lo na próxima noite, não estamos ganhando muito, você sabe!". Ele acenou com a cabeça para mostrar que havia entendido o pedido, e mostrou os dentes em um gesto meio adoentado.
Sentou-se lá no fundo, mas mesmo assim se sentiu nú, pois na arquibancada, projetada para cinquenta espectadores, não se sentavam mais do que quinze.Os tambores rufaram e ele pela primeira vez viu, com seus olhos, o pequeno coração(pequeno para um homem da sua idade, certamente deve ter murchado um pouco) bater mais forte, quase saltando das palmas de suas mãos.
Então, com um grito profundo, ele atirou seu coração às areias do circo. Ele caiu bem no meio do picadeiro, causando um pequeno levantar de poeira. Alguém espirrou ou tossiu. O leão limitou-se a farejar e desprezar o pedaço de carne. O trapezista sorriu.Os palhaços zombaram daquela atitude desesperada.
Só a pequena bailarina compreendeu. E veio caminhando com seu olhar melancólico e os passos medidos. A pequena bailarina não era mais que uma menina, no entanto, a mais delicada das mulheres. Uma mulher-menina de porcelana, um bibelô sensível. Com as mãos em concha apanhou o coração. O sangue lhe manchava as luvas brancas de carmina.
Naquelas pequenas mãos de opala, o coração se tornou magia. A arquibancada vazia se encheu, as crianças brincavam na rua, podia se ver as nuvens de Outono quando se olhava para o céu. A cidade e seus arranha-céus haviam ido embora e o circo deixara de ser nômade. Lá fora, brincadeiras de peão, de rouba-bandeira, cachorros latindo, um homem acenando de sua carroça. Donas conversando nos portões, alguém vendendo pão, outro assobiando.
Demourou-se um pouco para que ele aprendesse a vestir com razoável destreza, os risos da hiena, a frágil polidez dos elefantes e a elegância marinha dos corcéis. Antes vieram os tombos, as frustrações.
Porém, quando o espetáculo acaba, a noite alta, as pessoas cantarolando. Quando as luzes se apagam, e o leão boceja, o palhaço tira a sua maquiagem e a bailarina cessa seus rodopios...é quando o picadeiro dá lugar à outro tipo de mágico. Um mágico com um buraco no peito. Ele abre seus braços e como já não tem o coração lhe pesando, ele voa. Vai para um mundo onde não há espelhos falsos e o sol devolve a cada coisa a sua sombra natural. Nesse mundo não há o aplauso, porque tudo é justo. Porque tudo é bom.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Conto: O Amor e A Morte
O olhar de um boi na fila do abatedouro, resignado, com um infantil apego à vida mas caminhando resignadamente na fila, a promessa da martelada em sua cabeça larga no final. Era essa a impressão que se tinha sobre ela e seus olhos grandes enfiados demais naquele rosto demasiadamente raquítico, os ossos das bochechas saltando da face.
Não era de se admirar que aos dezenove anos se apaixonasse por um viúvo. Nunca havia sido tratada bem pelos três irmãos mais novos, muito menos pelo pai, que a obrigava à cuidar da casa desde que sua mãe havia se ferido moendo cana e ficara com a mão esquerda parecido com a pata de um passarinho, os dedos afastados e tortos, mais longos por causa dos ossos esmagados. O primeiro homem que a fez sorrir, a fez também se sentir amada.
Ela de fato se sabia amada, e vivia a cantarolar enquanto lhe engomava as camisas. A cama dos dois cheirava à falecida e ela não se importava... se sentia viva! Era ela que estava ali afinal. Não gostava de mexer em nada na casa, nem ao menos mudar a mobília de lugar, por receio de desagradar ao marido e aos filhos deles(dele e da outra, que é a primeira), afinal, eles se silenciaram quando os dois quiseram se casar.
O marido, para agradá-la, jamais mencionava a sua morta, ainda que a foto dos dois, e ela sorridente carregando o primogênito pendesse como um grito gigantesco da parede da sala e a envergonhando quando alguma pobre alma resolvia visitá-la. Seus irmãos, agora mais velhos, continuavam cruéis como crianças e viviam à amolar dizendo que feia do jeito que era tinha tirado a sorte grande ao se casar com um viúvo rico e (bem)mais velho.
Deus não havia lhes presentedo com filhos, por mais que tentassem, e ela acabou ficando velha demais para isso. Na verdade, a mãe dela não havia mesmo prestado depois do acidente(ela tinha apenas dez anos quando o pai chegou com a mãe ensanguentada e chorosa), e o amor parecia ser aquilo dali, lavar as vasilhas, dormir na mesma cama, cuidar das refeições, igual o que o pai dizia que a mãe fazia tão bem quando ainda podia. O pai dizia isso chingando, dizendo que ela, como filha, era uma desgraça e não sabia cuidar dele e dos irmãos. Ah se o pai à visse agora, esticando com zelo o forro bordado da mesa, de ponto tão delicado... o cheiro do bolo perfumando a casa.
Ah se o pai visse as flores que o marido trouxera, rosas vermelhas, como se eles ainda estivessem na fase do flerte depois de vários anos de casados. O branco do cós do pano de mesa, o vermelho sangue das rosas. Ela achou que era o contraste mais mimoso que havia visto na vida!
Talvez por timidez ou falta de jeito em viver, ele não havia lhe falado nada, mas as flores estavam ali como que para compensar a falta de palavras. Eles tomaram juntos o lanche e a noitinha ela passou a colônia favorita e vestiu a camisola de renda bem soltinha, deixando ver sob o tecido dois mamilos rijos e delicados. Os cabelos soltos lhe caiam como galhos de parreira, volumosos, cor de avelã. Ela se sentia verdadeiramente bonita.
Ele a beijou sôfregamente, e ela pôde sentir pelo cheiro dos pêlos dele que ele a desejava ardentemente e os dois fizeram amor mais como dois amantes sujos do que como marido e mulher. O quarto e os lençóis da outra se cobriram com suor e outros líquidos...e os dois nus, estirados como dois vermes sobre a cama, sem ao menos cobrirem os pudores. Estavam exaustos. Dentro de si ela guardou um sorriso de malícia, tocando o próprio lábio onde o mesmo nascera.
Quando o escuro se despedia, e o quarto se tingia do azul das quatro e meia, ela escutou um barulho como se um bichinho tivesse ao seu lado, um filhotinho de gato talvez, um chiadinho bem baixo, que foi crescendo, crescendo... por um momento ela achou que fosse uma assombração, o fantasma da outra querendo resgatar o que era dela. Quando teve coragem, o som já era estridente, ela abriu os olhos, o rosto do marido desfigurado em uma careta:
"As flores eram para ela!", ele disse.
Não era de se admirar que aos dezenove anos se apaixonasse por um viúvo. Nunca havia sido tratada bem pelos três irmãos mais novos, muito menos pelo pai, que a obrigava à cuidar da casa desde que sua mãe havia se ferido moendo cana e ficara com a mão esquerda parecido com a pata de um passarinho, os dedos afastados e tortos, mais longos por causa dos ossos esmagados. O primeiro homem que a fez sorrir, a fez também se sentir amada.
Ela de fato se sabia amada, e vivia a cantarolar enquanto lhe engomava as camisas. A cama dos dois cheirava à falecida e ela não se importava... se sentia viva! Era ela que estava ali afinal. Não gostava de mexer em nada na casa, nem ao menos mudar a mobília de lugar, por receio de desagradar ao marido e aos filhos deles(dele e da outra, que é a primeira), afinal, eles se silenciaram quando os dois quiseram se casar.
O marido, para agradá-la, jamais mencionava a sua morta, ainda que a foto dos dois, e ela sorridente carregando o primogênito pendesse como um grito gigantesco da parede da sala e a envergonhando quando alguma pobre alma resolvia visitá-la. Seus irmãos, agora mais velhos, continuavam cruéis como crianças e viviam à amolar dizendo que feia do jeito que era tinha tirado a sorte grande ao se casar com um viúvo rico e (bem)mais velho.
Deus não havia lhes presentedo com filhos, por mais que tentassem, e ela acabou ficando velha demais para isso. Na verdade, a mãe dela não havia mesmo prestado depois do acidente(ela tinha apenas dez anos quando o pai chegou com a mãe ensanguentada e chorosa), e o amor parecia ser aquilo dali, lavar as vasilhas, dormir na mesma cama, cuidar das refeições, igual o que o pai dizia que a mãe fazia tão bem quando ainda podia. O pai dizia isso chingando, dizendo que ela, como filha, era uma desgraça e não sabia cuidar dele e dos irmãos. Ah se o pai à visse agora, esticando com zelo o forro bordado da mesa, de ponto tão delicado... o cheiro do bolo perfumando a casa.
Ah se o pai visse as flores que o marido trouxera, rosas vermelhas, como se eles ainda estivessem na fase do flerte depois de vários anos de casados. O branco do cós do pano de mesa, o vermelho sangue das rosas. Ela achou que era o contraste mais mimoso que havia visto na vida!
Talvez por timidez ou falta de jeito em viver, ele não havia lhe falado nada, mas as flores estavam ali como que para compensar a falta de palavras. Eles tomaram juntos o lanche e a noitinha ela passou a colônia favorita e vestiu a camisola de renda bem soltinha, deixando ver sob o tecido dois mamilos rijos e delicados. Os cabelos soltos lhe caiam como galhos de parreira, volumosos, cor de avelã. Ela se sentia verdadeiramente bonita.
Ele a beijou sôfregamente, e ela pôde sentir pelo cheiro dos pêlos dele que ele a desejava ardentemente e os dois fizeram amor mais como dois amantes sujos do que como marido e mulher. O quarto e os lençóis da outra se cobriram com suor e outros líquidos...e os dois nus, estirados como dois vermes sobre a cama, sem ao menos cobrirem os pudores. Estavam exaustos. Dentro de si ela guardou um sorriso de malícia, tocando o próprio lábio onde o mesmo nascera.
Quando o escuro se despedia, e o quarto se tingia do azul das quatro e meia, ela escutou um barulho como se um bichinho tivesse ao seu lado, um filhotinho de gato talvez, um chiadinho bem baixo, que foi crescendo, crescendo... por um momento ela achou que fosse uma assombração, o fantasma da outra querendo resgatar o que era dela. Quando teve coragem, o som já era estridente, ela abriu os olhos, o rosto do marido desfigurado em uma careta:
"As flores eram para ela!", ele disse.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Relato: Amor e Morte
L'amour et la mort(O Amor e a Morte)
c'est l'amour(é o Amor)
c'est la mort(é a Morte)
c'est l'amour, c'est la mort(é o Amor, é a Morte)
la mort n'est que la mort(a Morte é só a Morte)
mais l'amour c'est l'amour(mas o Amor é o Amor)
c'est l'amour(é o Amor)
c'est la mort(é a Morte)
c'est l'amour, c'est la mort(é o Amor, é a Morte)
la mort n'est que la mort(a Morte é só a Morte)
mais l'amour c'est l'amour(mas o Amor é o Amor)
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Relato: O Mosquito
Um mosquito anda na tela do computador e ela acende seu último incenso como se as palavras da embalagem fossem um último grito de uma esperançosa devolução: " Traz fortuna. Devolve e aumenta a força."
Assim, como se o imperativo fosse capaz de algum milagre silencioso e inantigível dentro de sua alma- alma coisa esdrúxula essa. Mística.
Papilas gustativas nas patas. Olhos caleidoscópicos.Os líquidos e outras coisas que flutuavam em seu interior não à faziam miserável.
Ter alma era uma desculpa para ter esperança.
Um golpe certeiro da mão direita e a mosca é apenas uma coisa morta.
E ela? Ela se vê vingada de alguma maneira.
Assim, como se o imperativo fosse capaz de algum milagre silencioso e inantigível dentro de sua alma- alma coisa esdrúxula essa. Mística.
Papilas gustativas nas patas. Olhos caleidoscópicos.Os líquidos e outras coisas que flutuavam em seu interior não à faziam miserável.
Ter alma era uma desculpa para ter esperança.
Um golpe certeiro da mão direita e a mosca é apenas uma coisa morta.
E ela? Ela se vê vingada de alguma maneira.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Relato: Primavera
As pessoas pisoteiam o mato sem se questionar sobre a beleza das coisas escondidas. Uma hortência, em sua petulante beleza anil, é o senso comum do jardim. Ela é óbvia, gritante e comum.
Um dia, olhando um muro de hera, percebi pequenas florezinhas amarelas, minúsculas, de uma beleza sôfrega e tão pequenininha que chegava a ser emocionante.
Hoje, depois de ler um desejo- uma amiga que espera florescer os seus jardins- me dei conta que a esperança é uma dessas florezinhas sem vergonha... dessas que sempre pisoteamos, e que por puro altivez, ou até por pura ignorância, julgamos ser nada mais que mato. A flor, jamais ofendida, resnasce de novo, e de novo, o sol frágil e pequenino que aprendemos à amar .
Um dia, olhando um muro de hera, percebi pequenas florezinhas amarelas, minúsculas, de uma beleza sôfrega e tão pequenininha que chegava a ser emocionante.
Hoje, depois de ler um desejo- uma amiga que espera florescer os seus jardins- me dei conta que a esperança é uma dessas florezinhas sem vergonha... dessas que sempre pisoteamos, e que por puro altivez, ou até por pura ignorância, julgamos ser nada mais que mato. A flor, jamais ofendida, resnasce de novo, e de novo, o sol frágil e pequenino que aprendemos à amar .
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