"...Cada um cria seu mundo dentro de sua visão e audição. E fica prisioneiro dele. E de sua cela, ele vê a cela dos outros."
-Karl Engel

domingo, 16 de março de 2008
Relato: O Tempo.
Como possui efeitos anestésicos esse tal tempo. A memória dos cheiros, dos gostos, das cores se desfaz em espirais de cabelos que crescem à medida que anoiteço o meu corpo, a minha casa. A medida que me entrego às entranhas sinistras desse ser que é o silêncio. Que é a consciência de que as coisas são efêmeras. Ah! Doce efêmeridade. Diferente de querer morrer é ter a consciência da morte, da minha morte... e das coisas que não são eternas. Nem ao menos sentimentos. O tempo, senhor de tudo, se encarrega de torná-los brandos. A saudade deixa de ser saudosismo melancólico e se torna resignada e fria... como meus lábios. Me divirto em pensar que retornei ao meu momento de auto suficiência, ainda que tenha sido arduamente criticada por ele. Não preciso muito de ninguém além de mim.... porque, nesse momento atual de lucidez, eu decido o quanto quero ter dos outros em meu desígnio. Até que um dia seja traída pela minha sensibilidade de novo. E de novo. Em algo cíclico e no entanto, incerto. Essas marés de rostos e corpos. Essa solidão burlesca... onde nada se destaca além do rosto da minha dor. Tenho sido uma pessoa enjoativa para os meus amigos... por anos e anos. Qual é a verdade sobre mim e as pessoas? Sinto me sem habilidade para lidar com o que se segue. Sem controle dos meus muitos personagens.... e a vida segue. E o tempo leva tudo, tudo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
O tempo... esse carrasco das nossas vívidas emoções que vão virando retratos cada vez mais empoeirados das nossas memórias.
Postar um comentário