"...Cada um cria seu mundo dentro de sua visão e audição. E fica prisioneiro dele. E de sua cela, ele vê a cela dos outros."
-Karl Engel

segunda-feira, 21 de abril de 2008
Relato: O caranguejo
Esperança. Esperar. Que possamos acordar de nossas nuances sem carregar nehuma dor. Morrer um pouco. Nascer de novo. Nua. Sem laços. Sem saber de mim, o que eu sou, o que eu fui. Sem saber se devo. Se me entrego. Se me destruo ou se me descubro... mas já andei por demais desnuda. Minha pele se tornou sensível ao toque. Me recolho. Me estranho. Um pequeno caranguejo. A areia é úmida e fofa. Me sinto protejida em minha toca... mas o mar me chama. O mar é quente. É molhado e vivo. Uma nova. Outros sons além do cantar da areia se aconchegando. Os movimentos do mar são mais violentos. Podem arremessar meu corpo na boca de um predador. A minha casca será inútil. Mas na minha casa não encontro alimento, apenas proteção... para não definhar de fome tenho que esperar as horas em que a maré sobe e correr ao longo da quebra. Toda solidão. Toda flerte com as águas turvas pela escuridão. A espuma branquinha me chamando. E quando sinto as minhas patas tocarem a areia que cede, um pânico profundo me inunda e quando abro os olhos de novo estou no buraco na areia. O cântico das águas ao longe. Tenho a sensação latente que se me jogar as águas do mar, me saciarei em um farto banquete de plâncton e pequenos peixes, a água me balançando. Me acariciando. Em toda a minha extensão. Acho que perderia as amarras que me constroem como sou. Perderia a certeza de onde eu começo e onde eu termino. Onde é o meu corpo e onde é o outro corpo. E se eu me perdesse de novo? Será que me acharia? Será que seria digna de ser devorada pela bocarra enorme de um peixe? Quanto mais penso que me possuo, mais me descubro sendo do mar. O amor e a esperança são sempre sinônimas de suicídio. Mas será que um dia eu morro?Ou mais vale a areia da minha cova em vida?
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