"...Cada um cria seu mundo dentro de sua visão e audição. E fica prisioneiro dele. E de sua cela, ele vê a cela dos outros."
-Karl Engel

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Conto: Coyote

Hoje o dia floresceu que nem cactos habituado a ser seco, espinhento e que um dia cisma de dar flor. E eu, então, resolvi pegar o caminho mais comprido e barato até a faculdade de educação. Desprezando todos os conselhos dados por minha mãe, fui distraída olhando as árvores de Outono. Pensando como é boa essa estação com cheiro de meio das coisas em que toda casca de árvore lembra a jabuticabeira da casa de Vó.
Tinha uma árvore enorme, e lá no alto davam jabuticabas bem bitelas que eu, quando menina, subia no pé para chupá-las. Fiquei me perguntando porque essa menina quis aparecer hoje e me dar disposição para me exercitar.
O prédio da faculdade de educação brota no meio de uma montanha cheia de floresta e grama em volta. Para subir até lá, pego uma escadinha de degraus muito pequenininhos e amontoados que finjo ser uma pirâmide Maia. Isso me distrai de ter que subir até lá no alto.
Também fico pensando que na floresta do campus tem lobo mal. O lobo cinza tão bonito e com seu uivo sedutor e primitivo... mas até hoje só tinha encontrado gente. Estudantes iguais a mim... indo e vindo de um prédio para o outro, cortando caminho pela floresta sem ter uma vovó para quem levar uma cesta de gostosuras.
Sabe, fico chateada de não ter lobo no Brasil! Só lobo guará, simpático igual cachorro vira-lata, mas que nem tem o pêlo peludo e prateado. É até um bicho bonito, mas tem medo de gente e nem come carne. O lobo mal não! Devora a vovozinha inteira e ainda fica querendo colocar a menina de chapéu vermelho dentro daquele estômago grandão.
Queria, ao invés de ver o estacionamento da faculdade de educação, achar a cabana do meio da floresta! O fogão de lenha aceso, esquentando um chá para a neta. Quando era criança, tive uma Vó que morava numa casa no meio da floresta... de verdade. A floresta era um quintal com bananal, abacateiro e até amora! Mas para eu, que era pequena, aquilo ali era um baita de um matagal, com reguinho d’água e tudo! Só que também não tinha lobo! Tinha era um Léo, um cachorro rabugento e marrom que eu amava muito!
E eis que no estacionamento vazio de gente(eu estava atrasada para aula), vi um rabo marrom atrás de um carro. Não era rabo de rato, nem de raposa, nem de cavalo. O rabo saltou para trás de dois olhos vivos e uma bocarra assustadora cheia de dentes amarelados.
Era um coyote faminto. Ele bufava e chispava de um lado para o outro, fazendo uma dança selvagem. Fiquei hipnotizada! Gordinha desse jeito ia dar um prato farto para aquele bicho ali. Sempre esperei o lobo mal e me aparece logo outro bicho dos estates! Esse mais mexicano do que americano. Marrom vívido e magrelo, com cara de danado. Cão do diabo. Bicho encrespado e encardido. Deu até dó dele.
O coyote então pula para cima do carro, me olha bem na cara e dá uma gargalhada cheia de raiva e ao mesmo tempo amor. “Vou te devorar menina! Assim bem cangaceiro, contando as minhas proezas! Te fazendo sentir medo do que sou... a verdade! Nada de ludibriar e inventar! Ou de travestir e seduzir! Eu, coyote, sou pai de tudo que existe! Sou a fome que persiste! A corrida selvagem pelo deserto! O uivo desesperado para a lua! Não sou pomposo, só sou o que sou!”
Nessa hora, fiquei até com vergonha! Pensando um pensamento de que os olhos fundos do coyote fuçavam bem a minha cabeça, assim, reclamando dele não ser o lobo. Então gritei: “Eu lá tenho culpa de gostar do que gosto?”. Em um salto atlético o coyote me derruba no chão. Sua baba com cheiro de carniça pinga na minha testa e ele respira como se fosse um dragão prestes a cuspir fogo.
A pata dele me lembrou um pouco as dos meus gatos, uma pata pequena e esperta para um bicho tão feroz! Senti um comichão crescendo, frio dentro da barriga, de preguiça de morrer e deixar o meu sofá vermelho assim, sem os gatos nunca terem sentado nele. De deixar minha mãe sem a gente ter viajado juntas para Paris. De deixar minhas sobrinhas antes delas me contarem coisas de namoros. Os meninos das minhas irmãs antes dos bigodinhos crescerem. De deixar minha enteada que nunca ouviu umazinha das minhas histórias. De deixar o neném que nunca cresceu dentro de mim. De deixar o homem sem que ficássemos velhos.
Olhei dentro dos olhos do coyote, assim de tão perto dos meus que nós dois estávamos meio vesgos, e vi coisas lindas: índios dançando, fogo, deserto, poeira, lua, rios e um sol.
O coyote também estava apaixonado e por isso a gente se encontrou. Ele ama uma índia que veio dar palestra hoje(que é dia do índio)... ele havia sonhado com ela anos e anos. E ela não era índia igual tinha na terra dele. Era índia tupi guarani de cabelos pretos e lisos, de formas mimosas e cheias e a carinha redonda que nem a lua.
Toda vez que ele uivava para a lua, uivava pensando nela. Toda vez que ele corria e corria e corria pelo deserto, era tentando alcançar aquela índia lá no alto, disfarçada de lua bem no meio do céu. E foi assim, que um dia, no susto, ele chegou no Brasil. Falava um Português meio ruim mas dava pra gente entender.
Aí que a minha sorte foi tão grande, que quando a boca dele já se abria para abocanhar o meu pescoço, a índiazinha tupi guarani começou a cantar. E era uma música tão cheia de chocalhos e falando dos curumins que são como girinos, que o coyote parou o que fazia e resolveu ficar só fantasiando o futuro e os filhos curumins coyotes, correndo no deserto quase mata de Minas Gerais.
Entrei no prédio, fui até o banheiro, e com as mãos umedecidas limpei da minha roupa preta as marcas das patas do coyote e também lavei o rosto. Cheguei muito atrasada para a minha aula de Prática de Ensino, mas nem quis justificar. E além do mais, estávamos falando de Krashen e suas teorias, coisa que sempre gosto de ouvir.
Hoje a noite, depois que arrumar minha mala para ir morar um pouco com a minha mãe, vou agradecer o Outono pelo encontro! E mais do que tudo, me sentir agradecida por no Brasil só ter bicho pacífico igual a gente mesmo! Viva o lobo-guará e o mico estrela!

Relato: O que era pra ser perfeito se não fosse o contraste

Um dia voltei lá. Um fim de semana inteiro, meio que por travessura. Fiz de conta que era a casa dos outros. Um apartamento vazio. Tudo embalado para mudança.
Fui com ele, o meu. Ainda não tinha certeza de nada. Só uma coisinha tropega chafurdando meu coração e dizendo que ainda não devia desistir de amar. Que ainda valia a pena tentar.
Brincamos de aqui é a nossa casa daqui uns anos. Eu até cozinhei.
E de noite teve um show que eu achei que nunca ia poder assistir! Pequenos milagres.
Escutei as três palavras que me pareceram tão sinceras, parecíamos nos conhecer tanto.
Fechei os olhos e me deixei embalar por aquilo tudo. Promessas, uma rosa vermelha para cada mês, eu disse. Me lembrei muito da "Abrace-me" em que uma das coisas é que no escuro e no frio, não é errado se abraçar e mentir sendo legítimo.
Digo mentir, mas não no sentido bruto da palavra, mentir, porque toda vez que falamos de futuro a gente mente um pouquinho, mentir porque os sentimentos mudam e não podemos jurar constância.
Mas eu me senti feliz de um jeito tão diferente, como se eu estivesse finalmente pronta.
E era quase dia dos namorados. Quase isso.
Amanheceu. Veio a chuva de realidade que se segue após os dias oníricos. Uma tempestade fenomenal.
Quer saber de uma coisa? A realidade, bem, a realidade só é bonita muito de vez em quando. E a gente nunca aprende isso. A parte feia quando vem sempre machuca fundo, por causa do contraste.

Poema: Eva

Milhões de anos.
Milhões de anos e ainda somos
desse organismo a cerne, a carne.
A placenta que sangra e não grita, as mães.
Subjulgadas por suas crias e suas noções de sacro.
Quando nos tiraram o pagão
Nos tornamos profanas e definhamos
Como o que tinha a fruta que oferecemos à Adão
As crias, enfiam as mãos em nossa carne,
Ditam, nos torturam milenarmente.
Nosso órgão mais parece uma ferida aberta
Do que uma maçã.

Relato: Despeço

Minha velha dificuldade em me encontrar. As páginas que arranco e sinto que não o deveria fazer, porque são parte do que eu fiz. Do que joguei inconsequentemente no mundo, em minha vida. Mas me reconstruo sempre. Sempre. Nas páginas novas que carregam tantas pessoas que não consigo arrancar de mim...
Dela. Dessa Belo Horizonete que eu despreso. Me acolheu e eu a despreso.
A pinça ainda é torta e continua pendurada no gabinete do banheiro, como a escova de dentes que agora, deixada aqui me pareceu menos minha. Me pareceu de um estranho.
Sou outra coisa. Morri para a cidade e sua simbologia. Altivez e sonho e uma realidade embriagada.
Mais crianças na minha família e os meus pêlos mais espessos. Envelheci mais(por ter sido adolescente de novo). E me sinto velha agora. Bem velha.
Como a cidade e essa lua, olho prateado que um dia nem acreditei que era tão grande, e hoje não parece mais minha. Minha lua, vista da minha janela.
Estranho esse passado que se delonga, que não passa. Esses apelidos de duas sílabas. Esses três(incluindo o meu).
Me lembro da canção sobre o medo "E eu não o conheço bem, o nome dele é medo", medo. Não tenho ninguém que não seja fictício para dividir o meu medo. Recomeçar. Renovar.
Suas músicas, minha rédea. Uma história de ninar que meu pai nunca contou. Em uma voz masculina que me tanto fez falta. Meu pai é quase mudo por falta de jeito em viver. Afeição difícil de enxergar. E eu crescia escutando as músicas do King Diamond fazendo de conta que ele era meu pai me contando histórias de terror.
E agora volto para o meu pai de verdade. Minha mãe ficando cada vez mais velhinha e cansada. E os dois quartos me parecem estranhos. Não consigo dizer "meu quarto" e sentir isso no meu estômago. Me sinto sem lar. Vazia de agora. Cheia de vivências.
Sou inteiramente nova para mim mesma. Hoje. Vamos dormir.

Conto: A Cor Da Parede

As paredes do meu quarto são amarelas. Eram brancas até os doze. Uma luz vinda do poste atravessa o meu teto de maneira aconchegante. O rio Nilo! - digo para o Croc. Croc parece feliz, com o seu verde de pelúcia e seu sorriso amistoso e cheio de dentes, a língua pende ao lado deles.
Não quero dormir de novo. Os jogos do computador são tão distrativos, mas na tela preta do monitor escrito "loading" vejo meus próprios olhos apavorados. Meu coração está vazio. Meu irmão sai daqui...deixe me ver, três horas.
O seu ronco suave vem do quarto e eu imagino um enorme crocodilo no Nilo. Amon-Ra, o comedor de mortos, e Anubis pesando o coração- a balança de ouro pinga sangue. O sangue de verdade é escuro como o da primeira menstruação: pedaçinhos de útero preto-avermelhado e gosmentos na minha calçinha, e eu estava brincando de massinha. Minha mãe escuta o grito vindo do banheiro. Eu sabia o que era. Sabia. Só não queria. Nunca quis.
O cheiro de musgo e terra ainda está nas minhas narinas. Eu sou o crocodilo da seca do Nilo. Ouvi dizer que eles dormem sentindo esse cheiro até a seca acabar, as vezes, sobrevivem por mais de três meses. Diminuem seus batimentos cardíacos.
Eu morreria. Toda vez penso que vou morrer. Essa é a terceira. Só espero que meu coração na balança seja mais leve; não quero tê-lo devorado. Sei que Amon-Ra não é tão simpático quanto o meu croc.
Estranho que ele é tão bonito... o oráculo. Nãaaaaaao. Não quero chamá-lo. Mas ele sempre vem. Sua cabeça dourada e redonda, o entalhe de sol, a expressão fixa. Um longo vestido de musgo verde escuro cobrindo o corpo sensual de mulher crescida, as pernas somem no chão engolidas pela terra de onde ele saí fazendo um barulho de parto. As mãos nunca param de dançar. Uma dança mórbida e aflita, ondas e ondas de um mar revolto, o quadris o seguem.
O oráculo não parece feliz apesar de sua expressão não denotar sentimento, parece um escravo dos seus próprios movimentos e a terra o cospe. Em mim. Seu cheiro chega antes, começa com a terra molhada, depois vem o musgo e por último o cheiro de humidade. O cheiro de humidade sufoca. Me sinto claustrofóbica, enterrada viva na encosta do rio, os olhos cheio de moscas. A boca de um afogado.
A primeira vez, aquele rosto sem boca, olhos sem pupilas, me disseram com uma voz dentro do meu cérebro que eu não queria, que eu não queria, mas que ele me diria coisas sombrias, segredos ruins, ia desenterrar a cabeça de porco que jazia na terra do meu quintal. escondida. A cabeça de porco em decomposição. O fruto ruim. O fardo secreto. A terrível noite. Disse que me pouparia se eu procurasse a caixa de sapato de criança debaixo da terra do quintal. os olhos sem pupilas olhavam de dentro dos meus onde deveria cavar e cavar. Antes da chuva.
Minha cama ensopada, de sangue, menstrual. Achei que havia urinado também, mas era só suor. Minha camisola grudada no corpo. O croc caído no chão de barriga para cima. Tomei café de pão e margarinha molhados no copo cheio e escuro. Mamãe e o pai sairam cedo. O irmão ainda ia pra escola, me mandou andar logo. "Sua gorda pregüiçosa". Não iria conseguir ir a aula. Sem querer disse a ele que levasse um guarda-chuva, e ele perguntou se eu tinha comido demais e estava doente. Arrange outra desculpa, o céu está limpo, otária! E me deu um beijo estalado na testa salgada de suor.
A chuva caiu as três horas. Tapei a cabeça com o travesseiro e chorei. Quando eles chegaram eu já estava dormindo. E ainda era tardinha.
O cheiro veio de novo na noite seguinte. O banheiro branco daqui de casa. A água da privada se tingindo de vermelho. E o meu irmão não-nascido. Tinha olhinhos e mãozinhas. Tudo tão esterilizado e branco. O vaso branco. E o bebê. Os passos da minha mãe no corredor e de volta ao banheiro. A roupinha branca também. Não é para vestir. É um manto fúnebre. Um sudário para o pequeno ser. Quero o meu quarto de outra cor. Minha mãe não chorou.
Posso evitar. Assim como poderia ter achado o pequeno crânio no quintal. Mas não quero. Sou uma assassina por omissão. No fundo sei que aquele coração enorme na balança é o meu e sinto os dentes afiados dilacerando a carne. Minha própria carne. Nego o meu dom. Não quero usar o oráculo. Não. Mas sei que o maldito me visitará até a morte. Sei tudo o que me vai acontecer até a eternidade. Sei tudo sobre mim e esse é o meu fardo. Melancolicamente longo.
O irmão vai matar hoje. Por cinqüenta reais. Serão seis facadas nas costas. Seria melhor que ele vendesse o botijão da cozinha. Eu não falaria para mamãe. Não de novo. Não depois do que aconteceu da última vez. Seremos eu, mamãe e o croc. A polícia o vai pegar e ele será continuamente violado na cadeia por um dos presos. Eu não me importo. A escolha foi dele, ainda assim.
Vou ser devorada. Minha alma. Esse é o desfecho. Mas um preço pagável para sermos só nós. Minha parede é amarela agora. Não sabia que mamãe estava grávida, não sabia que ela abortaria ao ver o meu irmão fazendo aquilo comigo. Papai não sabe também, nunca saberá, a não ser que eu escolha desenterrar algumas coisas literalmente. Afinal, aquele bebê seria outro menino, e eu não saberia o peso do seu coração. Só o de papai talvez seja leve. Apesar dele passar mais tempo fora do que conosco.
Os dentes de Amon-Ra cintilam com a carne na noite. Mas nunca sei como é o final dos jogos.

Poema: Princess Of Nile

Princess Of Nile

Nile Princess a sinuous woman river
Cinnamon girl colored with the sand
Your sensual dance makes me shiver
My desire grows like water strings
Egyptian Queen, River Offspring

Incense smell of pagan divinities
Your tiger flesh golden dressed
And your long witchcraft fingers
The Underworld is a garden of yours
Snake dancer, Golden Crowed

Osiris, Anubis, slaved small Gods
By your beauty of carnal devour
Filling all senses with your complexion
No Horus to wait for
Queen of the desert, Cinnamon Princess

Conto: Papel Acobreado

As vozes familiares vindas da sala inumdavam os ouvidos.
Doçura de se sentir em casa. E a janela aberta trazendo um pouco de vento. Um pouco de luz.
As coisas sobre a escrivaninha emitiam as mesmas sombras de sempre, exceto pelo porta-retrato com a foto da última neta, um presente.
Não estava sozinha, mas buscava um isolamento. Um relampejo de malícia lhe correu por sobre os lábios murchos. Só meu o momento, o quero só para mim.
O quarto de escrever era um útero, seu e da mãe ao mesmo tempo. Só que sem o cheiro de sangue.
Cheirava à ela. Colônia adocicada de moça misturada com o cheiro da velhice. A sua própria.
Olhando as unhas pintadas de rosa se estranhava por não reconhecer mais as manchas senis. A pele um relógio. Como o papel dos primeiros contos que se amarelava.
Agora ea era uma folha, quase cobre, prestes a rasgar com o movimento de passar as páginas, ainda que suave.
Um livro grosso. A mente a relia, evitando ser nostálgica, naquele que era o seu momento particular, e não queria pecar em se sentir melancólica.
"Cadê a vovó?" ela escuta. Sorri como uma menina marota.
A escolha de subir até o quarto de escrever já havia selado a despedida. Ela seria assim, sem adeus, só dela.
Nas mãos os escapulário e o medo infantil de ser avisada três dias antes de quando ia morrer.
Ainda não sabia sobre o Deus, ainda não fazia idéia de como seria depois, mas ela queria a Hora.
Cansaço. Não conseguia escrever. Era o momento da epifâne.
E haviam as coisas que tornavam doloroso continuar.
Queria poder voltar. Achar um lugar de reconhecer a si mesma em cada objeto ou marca na madeira, um copo de bebida, risco, corte. Os pingos de um cabelo molhado quando ainda era dourado. E ela ainda um pouco selvagem.
O gato, o cúmplice. O gato. Sem nome, pois já houveram muitos e a criatividade se foi. Eles também não precisavam ser chamados, eram parte dela.
O ronronar se confudia com sua própria voz.
Ele dormia na cômoda como sua existência simples permitia...apenas existir. E ter somente pequenos vínculos... mais ser do que sentir, na verdade. Ela, era a parte que sentia.
Um gosto lhe sobe a boca e ela começa a derreter. Se torna tudo ali, se torna lembrança.


Mariana Figueiredo

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